O carnaval, inicialmente na Corte Imperial no Brasil, se inicia como uma comemoração cristão-católica de origem portuguesa. Nesse sentido, africanos livres e escravizados encontraram aí, entre as várias datas comemorativas do calendário católico, uma fresta para manifestar sua cultura. Existem relatos de que nas primeiras cidades colonizadas no nordeste do Brasil, como Salvador, por exemplo, africanos escravizados, libertos ou forros eram vistos tocando seus instrumentos tradicionais de suas culturas originais. Com roupas típicas apareciam em grupos cantando e dançando durante as festas populares nas cidades e povoados associados aos festejos nacionais. No repertório do desfile entoavam cantigas tradicionais no idioma de sua terra natal, ainda que estes grupos tenham sido compostos de povos africanos heterogêneos. Este povo foi denominado na Bahia por Cacumby e nas demais localidades, de Congos. Apesar disso, no Rio de Janeiro também houve um povo com a mesma denominação, os Cacumbi. No entanto, estes eram diferentes, ficaram aqui conhecidos como um grupo que se organizava durante o carnaval cantando e dançando suas músicas à moda africana demonstrando, assim, uma etnia específica na década de 1880. Essa ação coletiva foi chamada por Congos e Congadas. Em sua organização, temos algo muito similar à maneira a qual as Escolas de Samba recentes se relacionam com a sociedade. Temos aqui um grupo carnavalesco que pode ser considerado, segundo pesquisadores africanistas, antecessores das então Escolas de Samba que conhecemos. É no final do século XIX, que passamos a obter os desfiles de carnaval cada vez mais presentes organizados nas ruas pelos Cacumby. Caracteristicamente estas festas, que aconteciam nas ruas, continham um forte teor da cultura africana dos variados povos que aqui foram escravizados. Toda esta manifestação carnavalesca foi registrada na iconografia e na imprensa da época. Com desenhistas majoritariamente franceses, obtivemos diversos registros de desenhos com essa temática que retrataram a Corte do Rio de Janeiro. Entre os povos que circulavam nesses festejos tínhamos os kakondo, os kimbundo, os ovimbundo também “conhecidos como Mbundu do Sul, um grupo étnico bantu que vive no planalto de Bié, no centro de Angola e na faixa costeira dessas terras altas” e os moçambicanos. Apesar desses festejos carnavalescos reunirem povos africanos de diferentes regiões e tornar este grupo de pessoas bastante heterogêneo, esses povos, que possuíam ligação com um idioma genérico de grupos da etnia bantu, conseguiam se comunicar e organizar-se. Este carnaval puramente negro e africano passou a deixar de existir pelos idos de 1888, exatamente com a abolição. Nos anos de 1904 há a plena destruição da cultura africana tradicional no Rio de Janeiro. As reformas que ocorreram nos primeiros anos do século XX foram responsáveis pelo apagamento total. Essas festas que foram bastante presentes durante o século XIX foram substituídas pelo carnaval organizado pelas escolas de Samba. Que significa uma nova representação da africanidade e cultura dos povos negros remanescentes. O samba como trilha sonora do CarnavalNa década de 1920, incorporado como parte da identidade nacional (SILVA,2005, p.299), o carnaval passou a se tornar uma festa que agregava músicas de manifestações urbanas. Desse modo, encontramos a partir deste período um carnaval que passaria a não mais ser somente organizado e feito pelos negros descendentes de africanos. O brancos passariam a fazer parte desta comemoração, agora apropriada pela criação da identidade nacional. Ainda assim, foram vistas alguns gêneros tocados pelos povos negros do âmbito campestre, como as letras cantadas nos sambas-de-umbigada (COSTA, 2017, p.55). Existem estudiosos que apontam que o samba carnavalesco se originou de lundus, maxixes e modinhas que eram tocados e cantados nos centros urbanos do fim do século XIX. Os bailes realizados de maxixes e lundus eram chamados de Samba (COSTA, 2017, p.58). Aliado à gêneros híbridos como a polca-lundu e ao tango brasileiro, que na verdade se tratava do maxixe, tivemos o surgimento de outros gêneros, também bastante comuns como parte da música tocada já no Carnaval de rua, a Marchinha. Desse tempo, que na verdade descende da última década do século XIX, temos a primeira marchinha de carnaval por composta por Chiquinha Gonzaga, Oh abre alas!. Entre os vários elementos que compõem o carnaval temos o samba consolidado como gênero musical a partir da década de 1910. A consolidação do samba nos eventos carnavalescos se dá através dos primeiros sambistas que o levaram dos terreiros para as escolas de samba em paralelo com a marcha carnavalesca que predomina no carnaval de rua. Tendo então o samba-enredo que se torna a trilha sonora dos desfiles das escolas de samba e a marchinha de carnaval como trilha sonora do carnaval de bloco que se mantém até hoje. ReferênciasSANTO, Spírito. Música Africana na Corte Imperial do Brasil. https://publicacoes.degase.rj.gov.br/index.php/revistaau/article/view/188
BORBA, Tomás; GRAÇA, Fernando Lopes Graça. Dicionário de Música (Ilustrado), I – Z. Cosmos Editora. 1963. COSTA, Juliana Ripke da. Tópicas afro-brasileiras como tradição inventada na música brasileira do século XX. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo. 2017. SILVA, “Salloma” Salomão Jovino da. Memórias sonoras da noite: musicalidades africanas no Brasil oitocentista. Tese de doutorado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 2005. Oh abre alas!, o hino carnavalesco. https://chiquinhagonzaga.com/wp/o-abre-alas-o-hino-carnavalesco
0 Comments
Leave a Reply. |
Fique Atento!Todo mês temos conteúdos inéditos! Arquivos
Abril 2024
Categorias
Tudo
|